terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Yannick, ou a vitória da classe trabalhadora.




- contém spoilers da trama.




Jordan Mintzer, do The Hollywood Reporter, chamou o filme de divertido e elogiou seu "punhado de performances animadas e algumas frases hilárias espalhadas pelo caos". Mintzer, no entanto, também criticou o filme, escrevendo: "Como em vários filmes de Dupieux, este, em última análise, carece de uma piada ou algo que se assemelhe a um desfecho completo".

"Carece de uma piada ou algo que se assemelhe a um desfecho completo."

Não creio que esse filme - assim como nenhum outro do diretor - careça de uma piada, porque não se trata de ser um filme para divertir, mas sim para expor uma determinada realidade aqui apresentada: a do roteiro escrito por um trabalhador que, necessitando de atenção devido aos seus problemas psicológicos oriundos da exploração capitalista, sequestra uma plateia e um grupo de atores, fazendo estes últimos encenarem uma peça escrita por ele.




Extremamente fatigado por uma rotina de trabalho de sete dias para um de folga, esse trabalhador precisa organizar toda uma logística para, no dia de sua folga, poder ir ao teatro assistir alguma coisa que faça-o esquecer de seus dias de miséria como explorado e possa submergir em outra realidade que o faça alegrar-se minimamente.

Não sendo o que acontece e expondo duras críticas a peça que assiste, interrompendo-a depois de quinze minutos de exibição, inicia-se o sequestro dos atores e da plateia, fazendo-os de reféns.

"Incrível, é necessário uma pistola para lhe deem atenção."

A crítica aos atores que não dão a mais mínima atenção ao público -isso mostra-se em determinadas cenas onde o próprio ator principal da peça diz que ali só há rostos cansados, fatigados e entediados. Que quer fazer cinema, ser como Belmondo, e não essa merda de teatro - e nem ao que aquilo pode gerar de sentimentos no expectador.




Importante notar que me parece que aqui há uma lógica de subversão de certo tipo de cinema americano - outro trunfo de Dupieux - no que diz respeito aos filmes de massacre / sequestro, onde um "louco" toma reféns em qualquer local e depois assassina-os (aqui não se mata ninguém, a intenção não poderia ser diferente), sem nenhum traço de remorso.

A cena final desse filme é bastante subversiva e nos remete ao começo de tudo: o choro do trabalhador que vê sua obra sendo aplaudida e por fim tem algum reconhecimento na vida. Todos nós desejamos ardentemente sermos reconhecidos em qualquer coisa que seja, e aqui - um membro da classe trabalhadora que mal pode viver a vida e passa sete dias trabalhando, sendo massacrado por um sistema que o impede de gastar seu tempo da maneira que melhor que caiba, sendo necessária uma logística infernal e uma submissão ao seu chefe para só assim se divertir - ele finalmente alcança isso, chorando nos bastidores. Enquanto isso, vemos a polícia tomando conta do local, prestes a invadir a sala de teatro onde está ocorrendo a peça, prontos para prender Yannick.

Não vemos isso no filme, mas o final é tão claro como água: será encarcerado pelo resto de sua vida e os motivo pelos quais fez o que fez não serão questionados e, se por ventura forem, serão descartados. Por seus problemas psicológicos decorrente da exploração laboral, será tido como louco, mas sua loucura tem causa e tem cura, mas também será ignorada, pois convém ao sistema. Não serão discutidos os pormenores de seus atos, nem sua infância ou adolescência, tampouco o contexto social que o levou até ali. Sua trajetória será sumamente ignorada e será só mais um personagem fora de ordem que será preciso eliminar.

Yannick , ou a vitória da classe trabalhadora. - contém spoilers da trama. Jordan Mintzer, do The Hollywood Reporter, chamou o filme de div...